Conheça mais de Flavia Bia, a brasileira que vive no deserto

Ao cruzar as fronteiras do Brasil e chegar no deserto mais árido do mundo muita gente quer saber: quem é a brasileira que decidiu morar em San Pedro de Atacama, no Chile, e abrir uma agência de viagens diferenciada. Como é a vida, quais os planos e que dicas ela tem para dar aos viajantes que visitam esse lugar tão especial? Confira a entrevista:

Flavia Bia é o seu nome mesmo?

Meu nome de batismo é Flavia Ribeiro da Silva. Mas a minha irmã e eu temos uma diferença de 1 ano e 4 meses. Quando eu era pequena, todo mundo falava “Flavinha”. E ela repetia “Bibinha”. Eu, então, virei Bia por toda minha infância. Entrei na escola e todos os colegas me chamavam de Bia. Na universidade, as pessoas começaram a me chamar de Flavia. Foi quando eu comecei a ser Flavia. Só que eu também era a Bia. As pessoas da minha família me chamam de Bia até hoje. Quando eu criei Facebook, e-mail sempre foi Flavia Bia. Então, foi natural que esse fosse o nome da agência.

Como você veio parar no Deserto?

Tudo começou quando saí de um relacionamento de dez anos em São Paulo, buscando outras possibilidades. Fiz um retiro espiritual por 10 dias, em silêncio. Quando voltei desse retiro, eu já não me encaixei em São Paulo. Morei cinco meses na Argentina. Depois disso, ia para a Bolívia e voltaria para o Brasil. Mas sentia que não queria voltar para o Brasil. Era dia do meu aniversário, 6 de junho de 2011. E eu queria passa-lo sozinha em Jujuy, no norte da Argentina. Comprando uma passagem para outro vilarejo chamado Purmamarca. Foi quando percebi que minha carteira tinha sumido, com cartão de crédito, dinheiro… O Plano A deixou de ser opção. E resolvi passar para os planos B, C, D… Liguei para a minha mãe e ela disse que iria mandar dinheiro para me ajudar, mas era para comprar a passagem de volta. Mas decidi que não ia voltar, eu queria continuar. Fiquei num hostel em Tilcara, no norte da Argentina, durante três semanas, em troca de hospedagem e comida. Fui percebendo o momento. Chegou uma hora que eu tinha que continuar. Cheguei em San Pedro no inverno, em primeiro de julho. Foi quando comecei um novo relacionamento e ajudei a criar um projeto de turismo diferenciado na cidade. 

Como surgiu a ideia de abrir a sua agência e qual o diferencial dela em relação as outras?

Em setembro de 2015, resolvi lançar voo solo e realizamos o nosso primeiro passeio pela FlaviaBia Expediciones. Nascemos e seguimos com a proposta de ter um atendimento diferenciado, pensando no conforto e segurança (enviamos telefone satelital, por exemplo, a todos os passeios). Nossos guias são preparados e experientes. A alimentação é um grande diferencial. E continuamos a inovar e sermos ainda mais exclusivos. Agora, por exemplo, estamos fazendo visitas aos pontos turísticos com caminhadas desportivas para viver o deserto para além das fotos.

Como é ter uma empresa e gerenciar uma equipe num lugar tão diferente?

É bem interessante. Eu gosto muito do que faço. Tenho uma boa parceria com uma empresa de veículos. Além disso, gosto muito de delegar. Deixo as coisas fluírem e interfiro o mínimo possível. Trabalhamos com turismo e também gosto muito que as pessoas que trabalham comigo possam viajar. Também me esforço para que as pessoas sejam bem remuneradas. Hoje, temos trabalhadores capacitados que gostam de trabalhar conosco. É uma equipe bastante envolvida e muitos estão comigo desde o começo. Além disso, vários fornecedores entregam mercadorias em San Pedro. Mas pelo menos uma vez por semana temos que ir a Calama comprar algo. E vamos oferecendo nossos serviços diferenciados, mesmo em um lugar com clima mais adverso e menos infraestrutura.

Você parece uma pessoa super cosmopolita. Como consegue morar em uma cidade tão pequena?

Quando comecei a morar em San Pedro, percebi que não precisava de várias coisas que eu fazia antes. Eu gosto de ir ao cinema, mas hoje eu tenho Netflix e substituo isso. Não preciso morar numa cidade que tenha shopping… Claro, que aproveito para comprar roupas em cidades grandes, como São Paulo ou Santiago e faço alguns cuidados de beleza em outras cidades mais próximas. Mas San Pedro me proporciona paisagens e experiências que esses outros lugares não têm. Tenho certeza de que encontrei meu lugar no mundo.

Como é sua rotina? O que gosta de fazer?

Eu gosto de andar de bicicleta, fazer caminhada… Sou bastante caseira e gosto de ficar na minha casa, onde recebo amigos também. Mas adoro dançar e quando saio é com esse objetivo.

O que da cultura local você acha mais interessante? Incorporou alguma coisa no seu dia a dia?

A dança caporales, que é da Bolívia, mas também praticada na região, é uma paixão atual que eu incorporei. Me apresentei em dois carnavais seguidos em Arica, no norte do Chile. No Carnaval de 2017 meu grupo ficou em primeiro lugar. Além disso, acho os bailes típicos muito lindos, gosto de ver desfiles de rua. Apesar de não ser religiosa, uma das festas que gosto é a de Ayquina (um povoado perto de Calama que dança para a virgem de Guadalupe). Também considero a Cordilheira dos Andes incrível e tenho uma conexão muito forte com San Pedro. Fui tão bem tratada desde o início. Para mim, tudo flui aqui.

O que você acha imperdível no Atacama?

Lagoas altiplânicas e Piedras Rojas! Se eu tivesse apenas um dia no Atacama, eu, com certeza, faria esse passeio.

Qual a dica valiosa para quem vai visitar San Pedro?

Estar preparado para viver uma grande aventura e disposto a enfrentar o clima adverso e infraestrutura diferente das grandes cidades para ver muitas coisas novas pela primeira vez. Afinal, estamos no deserto mais seco e belo do mundo.

Tem alguma experiência inesquecível que passou por aqui?

Subir o vulcão Licancabur, caminhando oito horas até o topo. A sensação de conquista ao chegar no cume é indescritível. Outra experiência foi a subida ao vulcão Soquete, quando corri para salvar minha vida, enfrentamos uma tempestade de raios e precisamos nos livrar de tudo que tínhamos de metal, como os bastões e toda minha mochila. E acho que o mais importante foi descobrir que sou uma pessoa muito mais capaz do que eu pensava que era.

Quais os planos para o futuro?

O próximo passo agora será FlaviaBia Expediciones Patagônia. E claro, sempre continuar inovando nos passeios, incluindo lugares novos e melhorando ainda mais o serviço.

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